quinta-feira, 5 de maio de 2011

Novos ricos


Quarta-feira, 4 de maio de 2011. Um dia para entrar para a História, com o abatimento em massa dos brasileiros na Libertadores. Quatro eliminados, sendo que destes, dois podiam até mesmo perder seus jogos, enquanto a um bastava uma vitória por qualquer placar, em casa. Para outro, era necessária uma vitória fora de casa, o que não era em nada impossível. Mas todos falharam vergonhosamente em suas missões. Por que?

Na minha opinião, duas razões se destacam: complexo de vira-latas e arrogância. Atualmente, a economia brasileira é a mais forte do continente. O real é muito mais valorizado que qualquer outra moeda local. No cenário geopolítico, o Brasil também se sobressai, tomando lugar como um dos maiores players do planeta. E, como cereja do bolo, o país sediará uma Copa do Mundo e uma Olimpíada nesta década. Tudo isso influi para que as atenções se virem para cá.

Pois bem. Com todos os holofotes em terras tupiniquins, maiores investimentos começaram a ser feitos, as estruturas dos clubes melhoraram, além do “retorno ao lar” de craques consagrados na Europa. Fora isso, a chegada de jovens promessas sulamericanas deu ao futebol verde-e-amarelo um ar de “quase Europa”. E, infelizmente, o futebol brasileiro adotou uma característica que me irrita no Velho Continente: o tal do “pragmatismo”.

Hoje em dia, jogamos aqui no Brasil um futebol pragmático. Marcação, organização tática, time compacto, saída em contra-ataques. Impressionante a contradição: o país do futebol, que sempre se orgulhou de sua ginga, de sua capacidade de improvisação, se esforça ao máximo para praticar a antítese do que sempre pregou. Modelo que vencemos em CINCO Copas do Mundo. Ou seja: praticamos o estilo de jogo que já derrotamos CINCO VEZES! E praticamos muito mal, diga-se de passagem. Mas, como é vem dos “maiores clubes do Mundo”, copiamos e batemos palmas. Clássico complexo de vira-latas.

Mas esse complexo se aplica só em relação à Europa. Quanto ao resto da América, nosso erro é outro. A arrogância. Achamos que, por ter essa economia aquecida e investimentos estratosféricos, automaticamente ganhamos. As partidas seriam meras formalidades. Mas, novamente, os professores esqueceram de um detalhe: o adversário. Mesmo que um ganhe US$ 500 mil por mês, e outro R$ 500 reais e uns vales-transporte, o futebol continua sendo um confronto homem a homem. E, nesta quarta-feira, colombianos, paraguaios, uruguaios e chilenos foram mais homens.

Encararam de frente, de peito aberto, adversários tidos pelos especialistas (ah, esses especialistas!) como infinitamente superiores, e provaram que falar de favoritismo só serve pra enxer linguiça nos jornais em dias sem jogo. No campo, deram show. Venceram e convenceram com resultados e, principalmente, exibições incontestáveis. Igualaram na técnica, e se doaram 120% em campo. Levaram.

Vamos lembrar que vários times brasileiros já conseguiram viradas históricas também. Na bola, somos melhores. Mas não tão melhores a ponto de dispensar o mais importante no esporte: a VONTADE DE VENCER. Mas nossa síndrome de novo rico nos fez tapar os olhos para isso. Lamentável.

Enfim, acho difícil, mas espero que essa quarta de massacre na tão sonhada Libertadores - sonho de consumo de 11 entre 10 clubes brazucas – sirva para nos fazer recolocar os pés no chão, algo que perdemos no momento em que calçamos nossas Nikes cor-de-rosa.

PS.: Ironicamente, o único brasileiro a não ser eliminado nesta fase foi o Santos, de Elano, Neymar e Ganso. Coincidência?

PS (2).: Para elogiar o melhor time do mundo atualmente, o Barcelona, jornais classificam seu estilo como "brasileiro". Ah se esses gringos soubessem o que andam fazendo com o estilo brasileiro de jogar... Para ilustrar: http://globoesporte.globo.com/futebol/liga-dos-campeoes/noticia/2011/04/em-escolinha-do-real-madrid-estilo-e-jogadores-do-barca-fazem-sucesso.html