Me lembro perfeitamente da primeira vez que prestei atenção nesse cara. Era um fim de tarde de um domingo em 1999 e, antes de um jantar em casa, e assistia a um São Paulo e Corinthians, pela semifinal do Brasileirão (então disputado em forma de mata-mata). Não conhecia muito de futebol que não fosse o carioca e, para mim, a partida tinha como principais atrativos os astros do Timão, como Luizão, Ricardinho, Rincon, Edilson Capetinha e Dida. O São Paulo tinha o Raí, mas já naquela fase de fim de carreira. Mas quem me chamou a atenção não foi nenhum desses monstros. Quem chamou a atenção foi um goleiro diferentão, com uma camisa toda colorida, seguro e com bons reflexos.
A equipe de transmissão não se cansava de repetir que tal goleiro de camisa colorida batia faltas, advertia para que a experiente defesa alvinegra tomasse todas as precauções na intermediária. Numa falta (que ele não bateu) saiu o gol sãopaulino. Mesmo assim, Corinthians 2 a 1, tricolor paulista eliminado. Pouco me importava, e pouco me importa o resultado desse jogo até hoje. Não torço pra nenhum dos dois.
O que importava pra mim, naquele momento, era o nascimento de uma referência: Rogério. Pra mim, sempre foi Rogério, sem o pomposo Ceni acrescentado mais tarde, numa tentativa de dar um ar mais respeitável ao capiau guarda-metas do elitista clube do Morumbi. Bobagem!! Pra mim, é Rogério. Assim fomos apresentados, e assim me reservo o direito de chamá-lo. Tivemos grandes confrontos. Eu na arquibancada ou no sofá de casa torcendo pelo Fluminense, e o Rogério (sem Ceni, por favor) defendendo o São Paulo em campo. Um dos gols mais bonitos que vi foi em cima dele, não é Roger? Logo depois de um golaço que ele anotou sobre o Flu. Um dos muitos. O eliminei da Libertadores, numa cabeçada espírita em que ele chegou a resvalar. Um dos momentos de baixa de um cara vitorioso, e que demonstra isso apenas no jeito de olhar.
Muitos argumentam que ele foi injustiçado, que poderia ter sido titular da Seleção. Talvez ele apenas tenha surgido um ano atrasado. O Dida surgiu antes, e a frieza do negão baiano (fora o fato de jogar no Corinthians e, depois, no Milan) relegaram o goleiro artilheiro às reservas. Ele não se abalou. Venceu Paulistas, Brasileiros, Libertadores e Mundial. Eleito o melhor jogador do Mundial de Clubes de 2005. Competindo com o então queridinho da imprensa internacional, Steven Gerrard.
Eis que agora, mais de 10 anos depois de sermos apresentados, aquele goleiro ainda diferentão, ainda usando uma camisa colorida, com a segurança dada pela experiência e reflexos mantidos graças a treinamentos exaustivos me chama a atenção novamente. CEM gols, amigo. Alguns atacantes não chegam a essa marca, e o goleiro diferentão alcançou. Diferentão a ponto de pedir, naquele quadro global clichê em que um jogador pede música por algum feito, ele lançar AC/DC!!
Há onze, quase doze anos atrás, fui alertado sobre ele. “É um perigo cobrando faltas”, disse Luciano do Valle. É, Luciano. Realmente, ele é um perigo cobrando faltas. Repito 100 vezes: O Rogério é um perigo cobrando faltas.