segunda-feira, 28 de março de 2011

"Ele é um perigo cobrando faltas"

Me lembro perfeitamente da primeira vez que prestei atenção nesse cara. Era um fim de tarde de um domingo em 1999 e, antes de um jantar em casa, e assistia a um São Paulo e Corinthians, pela semifinal do Brasileirão (então disputado em forma de mata-mata). Não conhecia muito de futebol que não fosse o carioca e, para mim, a partida tinha como principais atrativos os astros do Timão, como Luizão, Ricardinho, Rincon, Edilson Capetinha e Dida. O São Paulo tinha o Raí, mas já naquela fase de fim de carreira. Mas quem me chamou a atenção não foi nenhum desses monstros. Quem chamou a atenção foi um goleiro diferentão, com uma camisa toda colorida, seguro e com bons reflexos.

A equipe de transmissão não se cansava de repetir que tal goleiro de camisa colorida batia faltas, advertia para que a experiente defesa alvinegra tomasse todas as precauções na intermediária. Numa falta (que ele não bateu) saiu o gol sãopaulino. Mesmo assim, Corinthians 2 a 1, tricolor paulista eliminado. Pouco me importava, e pouco me importa o resultado desse jogo até hoje. Não torço pra nenhum dos dois.

O que importava pra mim, naquele momento, era o nascimento de uma referência: Rogério. Pra mim, sempre foi Rogério, sem o pomposo Ceni acrescentado mais tarde, numa tentativa de dar um ar mais respeitável ao capiau guarda-metas do elitista clube do Morumbi. Bobagem!! Pra mim, é Rogério. Assim fomos apresentados, e assim me reservo o direito de chamá-lo. Tivemos grandes confrontos. Eu na arquibancada ou no sofá de casa torcendo pelo Fluminense, e o Rogério (sem Ceni, por favor) defendendo o São Paulo em campo. Um dos gols mais bonitos que vi foi em cima dele, não é Roger? Logo depois de um golaço que ele anotou sobre o Flu. Um dos muitos. O eliminei da Libertadores, numa cabeçada espírita em que ele chegou a resvalar. Um dos momentos de baixa de um cara vitorioso, e que demonstra isso apenas no jeito de olhar.

Muitos argumentam que ele foi injustiçado, que poderia ter sido titular da Seleção. Talvez ele apenas tenha surgido um ano atrasado. O Dida surgiu antes, e a frieza do negão baiano (fora o fato de jogar no Corinthians e, depois, no Milan) relegaram o goleiro artilheiro às reservas. Ele não se abalou. Venceu Paulistas, Brasileiros, Libertadores e Mundial. Eleito o melhor jogador do Mundial de Clubes de 2005. Competindo com o então queridinho da imprensa internacional, Steven Gerrard.

Eis que agora, mais de 10 anos depois de sermos apresentados, aquele goleiro ainda diferentão, ainda usando uma camisa colorida, com a segurança dada pela experiência e reflexos mantidos graças a treinamentos exaustivos me chama a atenção novamente. CEM gols, amigo. Alguns atacantes não chegam  a essa marca, e o goleiro diferentão alcançou. Diferentão a ponto de pedir, naquele quadro global clichê em que um jogador pede música por algum feito, ele lançar AC/DC!!

Há onze, quase doze anos atrás, fui alertado sobre ele. “É um perigo cobrando faltas”, disse Luciano do Valle. É, Luciano. Realmente, ele é um perigo cobrando faltas. Repito 100 vezes: O Rogério é um perigo cobrando faltas.

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