Domingo à noite. Rodada de fim de semana encerrada. Eu poderia falar sobre a freguesia recente do clássico Botafogo x Flamengo. Poderia dizer que o clube de General Severiano já tem até conta na Gávea. Na verdade, a ideia original era essa, mas pensei um pouco e refleti sobre os requisitos que uma partida tem de reunir para se chamar Clássico. E mais: quais condições um clube tem de cumprir para ser chamado de Grande.
Todos sabemos que a condição para se ter um Clássico é que seja um embate em dois clubes tradicionais. Mas o que é a Tradição? O que define um Clube Grande? Número de títulos? Ok, então. O Atlético MG venceu apenas um Brasileiro, e mesmo assim ninguém chamaria o Galo de pequeno. Ou seja, não é o número de títulos que indica o status de um time.
Poderíamos recorrer à frequência com que os clubes conquistam títulos. Vai dizer que, mesmo com uma fila de 21 anos, o Botafogo é pequeno? O Corinthians superou esse recorde: foram 22 anos! E o Timão nunca foi considerado exatamente um clube de bairro.
“Então tá. Torcida atribui tradição. Quem tiver mais torcida, tem mais tradição”, alguns podem dizer. Beleza, cara. Então Grêmio, Internacional, Cruzeiro e Bahia, por exemplo, estão fora do grupo. Fora de seus estados, suas torcidas são ínfimas. Vai receber o Colorado então? Quem não fica com um pé atrás, mesmo jogando em casa, contra qualquer um deles?
“Fechou... se não é número de títulos nem tamanho da torcida, então é organização, estrutura”, afirmariam os mais modernizados. Fluminense, Vasco, vocês estão fora segundo essa avaliação. Entram Grêmio Prudente e Nova Iguaçu. CTs novinhos, folha salarial em dia, coisa de primeiro mundo. Agora imagina essa situação: seu time numa situação final. Emoção, respiração pesada. Qualquer detalhe é decisivo. Prefere enfrentar quem? Fluminense, Vasco, Prudente ou Nova Iguaçu? Se você foi criado a leite com pêra, a ovo maltine, vai seco nos dois últimos. Que resistência eles ofereceriam? Agora, quem não treme quando vê a camisa Tricolor ou a Cruz de Malta pela frente? E futebol é isso. Viver no limite, ganhar dos melhores. Escolhendo Prudente ou Nova Iguaçu, parabéns, você é uma colegial medrosa. Vai ver handebol, que futebol é coisa pra macho de verdade.
Resumindo, essa historinha toda foi pra chegar a um ponto: não tem como qualificar clubes no Brasil. Essa divisão radical entre um clubinho do 1º e, o resto, do 3º mundo futebolístico, por assim dizer, é coisa europeia. Lá, sim, existem poucos clubes que monopolizam os campeonatos através das características que eu citei. Mas aqui não!
No Brasil, a classificação de grande é uma coisa mais abrangente, o que é ótimo no final das contas. Qual país pode se orgulhar de ter tantos clubes extremamente representativos nas quatro divisões profissionais de seu futebol? O gigante Santa na Série D; Paysandu e Fortaleza na C; Goiás, Sport e Portuguesa na B. Todos clubes de massa, considerados grandes em qualquer parte do país.
Enfim, é isso. Em vez de brincar de “o meu é maior que o seu”, por que não começamos a aproveitar o fato de termos ao menos um Clássico por mês durante todo o ano? Ou vai dizer que você prefere ficar contando nos dedos pra enfrentar um rival, duas vezes por ano, e passar o resto da temporada “batendo em bêbado”, surrando adversários sem a menor graça? Se for assim, é sério, procura outro esporte! O Futebol não é para o fracos.
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