Faltam pouco mais de 3 anos para Copa do Mundo no Brasil. Dirigentes de clubes ou de Federações, políticos e personalidades trocam farpas, um acusando o outro como culpado pela pasmaceira com que se arrastam as obras para o Mundial. Preocupados (como sempre), com seu próprio rabo, todos estes envolvidos acabam colocando no nosso (rabo). Disso, todos já sabemos, e nada que façamos será ouvido ou levado em consideração, visto que vivemos na democracia mais falsa do planeta. Então, como diriam nossos avós, “o que não tem remédio, remediado está”. O desafio deste texto será enxergar a Copa sob outros aspectos, nos quais a situação é igualmente ruim.
Primeiro, o mais óbvio: os estádios. Lembro perfeitamente da minha primeira ida a uma partida de futebol. O ano era 1995. O jogo era Fluminense x Paraná Clube, numa tarde de domingo nas Laranjeiras. Cerca de talvez 10 mil pessoas se espremiam para ver o esforçado time dirigido por Joel Santana, que tinha Renato Gaúcho como principal estrela. Estrela essa, inclusive, que autografou minha camisa de algodão, à época PP (nota: tinha 6 anos de idade nesse dia). Abracei o cara através do alambrado! Hoje em dia, as Laranjeiras mal servem como campo de treinamento do Flu. Quanta coisa mudou em 16 anos!
Não sei se todas as mudanças são realmente boas. Por exemplo, quando meu filho terá uma oportunidade de contato direto com seu ídolo? Ainda mais saindo do campo, do gramado onde batalhou para defender o clube que ele também está defendendo, só que com seu apoio. O jogo é o único momento no qual todos somos iguais, todos somos importantes. Seja eu, o pequeno torcedor, meu pai, torcedor mais experiente, ou o craque Renato. Os rumos do futebol atual levaram os jogadores a serem rockstars, dando-lhes tal tratamento. Para eles, interessados em carros e bundas grandes (não necessariamente nesta ordem) foi ótimo. Ambos lhes são oferecidos aos montes nos saguões luxuosos dos hotéis que frequentam, ou nas noitadas regadas a álcool e sexo. Ok. Isso sempre lhes foi oferecido, dirão alguns. Mas algo está sendo perdido nesta relação.
E este algo é aquela relação torcida-jogador. A visão que os atletas têm da torcida é uma visão de massa, milhares de pessoas gritando em uníssono. Qual jogador cita como momento marcante o choro de agradecimento estampado na cara de um torcedor, após um gol nos minutos finais? Por outro lado, a própria torcida perde aquela visão mais próxima do ídolo. Ele deixa de ser o humano, o cara que te abraçou, que você tocou, pra ser o cara da televisão, a estrelona que ignora os fãs, mas não dispensa uma modelo. E, assim, a relação acaba tornando-se fria, impessoal e distante. Uma relação estritamente profissional.
Será que esse tal “profissionalismo”, tão apregoado por jogadores, treinadores, dirigentes e jornalistas é realmente tão benéfico assim? Será que esse distanciamento entre os “deuses do Olimpo” e nós, reles mortais, faz a relação boa? Será que esse clima europeu, de frieza mútua, é aplicável e, acima de tudo, benéfico a um povo latino? Esse distanciamento, pautado pela neurose coletiva na qual vivemos atualmente, faz com que todos vivamos com medo de um ataque terrorista, de um assalto ou algo do tipo. E, em nome da segurança, perde-se a emoção. Exigências da FIFA, o que se há de fazer?
Sinceramente, dona FIFA e senhor Joseph Blatter? Eu vou poder dizer pra sempre que abracei meu ídolo, mesmo que ele não faça a menor ideia disso. Fui apenas mais uma criança empolgada, recebendo um autógrafo. Mas fico com uma certeza e uma suspeita. A certeza é de que um simples abraço e um autógrafo do seu ídolo podem fazer sua vida muito melhor. A suspeita é que meu filho, infelizmente, não terá a mesma chance. Pelo menos, não no alambrado do estádio.
Obrigado por nada, mister Blatter.