quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Todo mundo odeia atacantes


"Everybody haaaates Chris"

Tirei duas horas da minha tarde pra assistir o amistoso entre Barcelona e Napoli realizado em Genebra (Suíça), como preparação para a temporada 2014/2015. E um fato esquisito me chamou atenção: enquanto do lado espanhol (ou melhor, catalão... todo o apoio à independência da Catalunha!) os craques Luís Suarez e Neymar estavam ausentes, a equipe napolitana (bem pior que o sabor de sorvete que leva seu nome, diga-se de passagem) contava com o atual anti-herói do futebol mundial: o lateral direito Juan Camilo Zuñiga Mosquera - ou simplesmente Zuñiga -, responsável não só pela saída do astro brasileiro da Copa do Mundo como por uma fratura em uma vértebra da coluna do atacante.

Ah, os atacantes! Os responsáveis pelas maiores alegrias do futebol são, ironicamente, os mais odiados pelas entidades que regem o esporte ao redor do planeta. Me fez refletir bastante o fato que, enquanto o brasileiro se recupera da seríssima contusão (mesmo que em passeios de iate ou em noitadas com a Paris Hilton, o cara quase ficou paraplégico!), o colombiano não só foi relacionado para o jogo como entrou no decorrer do segundo tempo.

"Eu sempre considerei corretas as intervenções disciplinares pelos órgãos competentes. Mas, ao mesmo tempo, eu acredito que a fórmula proposta é excessiva"
Giorgio Chiellini, zagueiro da Juventus e da seleção da Itália, sobre o incidente envolvendo seu ombro e os dentes do atacante uruguaio Luis Suárez durante a Copa de 2014

Mas você poderia me dizer que Suárez não é nenhum santo, e sua punição também se deu por causa de uma agressão. Pois bem. Suárez mordeu o ombro do zagueiro italiano Giorgio Chiellini em jogo na Arena das Dunas (RN) no qual a Celeste venceu por 1 a 0 e despachou a Squadra Azurra. Como gancho, o Pistoleiro foi suspenso por nove jogos oficias pela seleção e ainda terá de ficar longe do futebol durante quatro meses (incluindo estádios em dias de jogos).

Suárez não ficou perto de incapacitar Chiellini. Sua atitude é de uma falta de civilidade absurda e até, de certa forma, infantil. A mordida no zagueiro adversário merece sim punição (e não cabe a mim julgar o rigor ou não dela), mas por que Zuñiga, cuja atitude causou muito mais danos, não foi sequer advertido formalmente pela Fifa, Federação Colombiana ou nem mesmo seu time?

A ideia que se passa é simples: todo mundo odeia atacantes. Os brutamontes desgovernados que governam os campos ao redor do mundo são as meninas dos olhos dos velhos dirigentes, que gostam tanto de futebol quanto eu da Hannah Montana. A agressão nunca é justificada. Mas a não punição a um ato doloso é ainda mais lamentável.

A propósito, o Napoli venceu por 1 a 0, gol feito já com a constrangedora presença de Zuñiga e as incômodas ausências de Suárez e Neymar.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Meu coração bate feliz quando te vê


"Meu coração
Não sei por que
Bate feliz
Quando te vê"

Os versos iniciais de Carinhoso, clássico composto por Pixinguinha em 1917, servem para, quase 100 anos depois, ilustrar o argumento em moda no meio futebolístico de 2014: o carinho.

"Eu também preciso de abraço, de carinho"
Felipão, sobre os motivos de sua volta ao Grêmio


Jogadores e treinadores se apoiam cada vez mais nos sentimentos como uma muleta para decidir seus destinos (positiva ou negativamente), evidenciando assim a fragilidade emocional que o Brasil enfrenta no esporte do qual é símbolo mítico.


"Robinho é um grande campeão. Tudo o que ele precisa é de amor e confiança"
Dunga, sobre o futuro do outrora Rei das Pedaladas

Na Copa de 1958 - primeiro título mundial verde e amarelo -, o Brasil ainda não era uma potência reconhecida. E muito desse descrédito era atribuído a uma suposta falta de firmeza em momentos adversos, essencial tanto no esporte quanto em qualquer atividade profissional que procure o alto rendimento. 

Pois bem. Na final, contra a equipe da anfitriã Suécia, a Seleção saiu atrás no placar. Quando os suecos fizeram 1x0, Didi chamou atenção ao caminhar com a calma e confiança de um mestre até o gol, colocar a bola debaixo do braço direito e voltar ao meio do campo para dar reinício à partida. Resultado final: Suécia 2 x 5 Brasil, e a eternização do primeiro grande momento de uma equipe que simboliza não só a excelência em um esporte, mas a vitória da perseverança.

"A torcida do Fluminense me deu muito carinho e, agora, tudo o que eu quero é continuar trabalhando muito e ajudar meus companheiros a conquistar vitórias"
Fred, sobre a volta ao Fluminense após a péssima participação na Copa do Mundo

Ao basear suas escolhas em um carinho imaginário por parte de quem paga seus vencimentos, estes esportistas estão, na realidade, procurando se esconder das críticas sob o guarda-chuva daqueles que têm uma maior paciência com erros que eles ainda nem sequer cometeram. 

A predisposição ao fracasso apresentada por três ícones do futebol brasileiro, mais do que qualquer desorganização das entidades gestoras (que existe e é incontestável), é sintomática em um momento no qual, assim como em 1958, precisamos reverter um jogo difícil e que estamos perdendo. Enfim, precisamos de mais Didis, com sua audácia, e menos Freds e Robinhos, com suas carências mal resolvidas.

Pixinguinha - Carinhoso